GiraSol





Assim como a Terra gira,
gira o mundo do avesso,
gira a lua em volta da Dela,
à refletir do Sol a luz,
pra iluminar de noite a Terra.

Reflexões

















Ontem caminhei.Entre cantos e recantos da imaginação alcei vôo sem limites.
Enquanto a vida corria na via paralela fiz planos.

Eram planos de um não sei.
E tudo envolvia o tempo, essa definição que não compreendo.
Ontem vi a Serra ao longe.
Cruzei o espaço e vaguei sobre colinas.
Revi projetos, busquei respostas.
Mas as respostas nunca respondem às perguntas.
O amanhã -mais uma vez o tempo - trará mais perguntas.
Tentarei colher respostas pra que sejam o que quero....
Porque a vida, entre atos, neste cenário, pode ser escrita.... E reescrita.
E quando as cortinas se fecharem, caminharei novamente.
De encontro à Serra, um horizonte qualquer, o êrmo, ...
Alguma esperança sempre há,.... E haverá.
Tempo e vida... Tudo relacionado.
Viver em frações.... Porque nada é completo....
E a vida resume-se ao que se pode lembrar dela.
Sejam dias, meses, anos...
Tudo editado em pequenos clipes de boas lembranças.

Outono



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Hoje o dia disse brisa, disse sol,
deu rumo e terminou.

Todo dia nasce e morre no mesmo dia.

A gente fica e espera. Que venha o próximo.

Todo dia a gente pode mudar o dia,
seguir um rumo, talvez sem rumo,
dizer coisas...
...coisas que vão sendo escritas na memória...

Um dia um livro chega pelo correio,
a gente abre e lê.

Vê que a vida, com seus altos e baixos,
deixou muita coisa legal.

...E todos os dias ela deixa,
enquanto houver a possibilidade de um amanhã.


(esse foi para minha amiga Nádia Rockenback,
que acabou de publicar seu livro "Outono"
pela Editora Protexto)
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Certa vez me vi acima delas.
Descobri que nada têm de algodão,
nem são doces,
mas são lindas;
E nos permitem refletir,
assim como refletem
a luz brilhante do sol nesta manhã.
Da mesma forma se tornam negras à noite.
Escondem a lua.
Às vezes trazem chuva.
Podem existir por vários motivos mais importantes,
mas, sem dúvida, estão aí para o nosso deleite.


Outro dia morreu um cara.

Sei, hoje também, e todos os dias parece que morre alguém.

Mas nasce também.

O cara que morreu, morreu no mesmo dia que um outro, famoso.

A mídia veiculou tudo. E todos queriam lhe dar o último adeus. Sim, ao famoso.

A mim parece que adeus é coisa ligada à último mesmo.

Assim ouvi. Só estou a repetir.

Tudo é meio que uma repetição. Não me lembro de ter criado nada.

Só repito. Feito papagaio.

Vai pensando, vai! Você também.

E quando a gente pensa que inventa, na verdade só reorganiza o que já está aí.

Escreve da esquerda pra direita, aí, pra inventar escreve da direita pra esquerda, de cima pra baixo... só que diz sempre a mesma coisa.

Sei lá. O cara era famoso, estourou na mídia e agora, uns dias depois ninguém mais fala.

Nunca vi o passado ficar tão passado tão rápido como agora.

A laranja parece mofar antes de cair do pé.

É tanta informação, tão rápido, que nossos processadores, ops! neurônios, parecem não dar conta.

Então, como as coisas voam, perdem valor também. Não que os aviões não valham nada. Acho que são até bem carinhos.

Mas a abundância faz com que o valor que damos às coisas diminua. Muitas vezes não percebemos seu valor real, absoluto.

Sei lá! Coisas pra se pensar.

Pensei.

...dias





















Tem dias que a gente acorda
meio folha soprada.
Aquelas que ninguém percebe.
Apenas mais um, ou uma,
lançada ao ar.
Nesses dias frios,
outono,
é assim que o dia amanhece.
Falta um galho onde se prender,
falta algum alimento
que torne a clorofilar a alma.
Nesses dias assim, gelados,
em que sopra o vento
empurrando tudo de um lado
para o outro percebo-me
empurrado também.
Dá vontade de sair por aí,
dá vontade de deixar o acaso
fazer seu papel de causador.
Amanhã... Mais um dia...
...Frio!















Hoje tive desejo de ser louco.
É!
Vontade de sair à esmo,
correr pelo asfalto molhado,
correr pelo campo deserto,
andar pelas ruas estreitas,
voar pelo ar ...gelado.

Hoje tive vontade de sair na chuva.
Chuva fria.

Quis ver o mar.
Quis navegar teus sonhos.
Fiquei nos meus,
por não saber ao certo quais os teus.

Hoje nem me deitei.
Sonhei acordado,
meio atordoado talvez.

Hoje as gotas da chuva caíram
sobre as folhas verdes do jardim
e deslizavam levando consigo o pó.

Hoje a água correu sobre o calçamento
e levou...
Levou idéias,
trouxe desejos,
inundou vontades.

Hoje,
eu sei,
será o ontem do amanhã.

O que farei com isso?

Hoje guardo.
Amanhã, vivo, ou, viverei.

Não sei.

Acho que vivo hoje o amanhã
antes que ele chegue.

Cidade

"...ô cidade, quem foi que fez você tão cinza assim?
não teve dó de ver-te adoecer..."

Cidades são edificadas por pessoas.
Existem não por obra do acaso,
mas porque foram criadas.
Será que a cidade como é,
as cidades como são,
respondem,
ou correspondem,
às expectativas que temos?
Cidades não são prédios, são pessoas.
A cidade está dentro de cada um.
Se a cidade é cinzenta e fria,
apenas o é por reflexão daquilo
que absorve, e externa, daqueles que a habitam.

"...como estás triste,
as cores que te faltam, faltam em mim também,
pois perdi todo meu verde igul a a ti..."

A cidade perde seus verdes, seus azuis e lilazes,
veste-se da mortalha fria do cimento armado,
banha-se no rubro descaso das esquinas,
onde notícias impressas entopem bueiros escancarados,
e necessidades descartáveis prostram-se
diante postes e semáforos intermitentes.

"...sob nuvens,
teus edifícios olham mudos,
a esperrança e o futuro,
daqueles que te clamam e choram..."

Nas sarjetas, guias, cantos,
carvão impregnado no granito frio,
onde cobertores contem o pouco calor
que resiste à frieza da noite... longa...
...na qual o brilho da lua, quando há,
é quase nada,
e ainda assim tudo,
a refletir brilho nos olhos que marejam
na busca por atenção.