Sementes


"...nada se move, mas parece que dará frutos...
assim, são as árvores que plantamos..."
É da natureza delas, as árvores, produzirem frutos.
Precisam apenas de luz, de água e alguns nutrientes do solo.
E como elas, as árvores, muitas outras coisas são.
Podemos falar de amor, podemos pensar em paixão.
E como fortalecer o amor? Como alimentar a paixão?
Tanto podem, ambos, atenuar tristezas como nos causar dor.
Podem nos fazer renascer, podem nos trazer vigor.
  Aí o peito cheio, os músculos tesos, ...e se tivesse um rabo,
seria como o pavão.
Estufado de amor ficaria diante dela.
E ela, claro, se impressionaria.
Então muda-se o foco de tudo. E o sabor das coisas depende
de quantas pitadas dela tudo contém.
Amor, paixão... árvores.
Deve haver algumas diferenças.
Certamente uma é que as árvores dependem das coisas da natureza,
para, imóveis, crescerem e produzirem seus frutos.
Os outros, amor e paixão, dependem só de nós.
Paixão, se for pra afundar, vai primeiro. Amor é mais resistente,
pode mesmo ficar pra sempre, mas também pode ficar estéril.
Aí, um dia, cessa a estiagem e a gente chove nele.
O amor rebrota, lança novos ramos... cresce, ...mas cadê a paixão?
Amor é bom, mas paixão.... essa sai pelos poros.
É coisa que ninguém segura.
Ferve, transborda, faz maluquices, depois ri muito e pensa...
Como é que eu fiz isso!?
Paixão é assim. Bem menos comportada que o amor.
É preciso os dois, ou, uma boa pitada de cada, pelo menos, pra fazer
o tempêro de um bom prato da gente.
Que tal sementes?
Sementes produzem árvores, que não se movem, mas darão frutos...
Sementes podem ser guardadas em lugar fresco e sêco.
Podem ser plantadas depois...
Quantas sementes temos? Espero que sejam muitas,
assim caso alguma morra sempre poderemos plantar outra.
E nunca faltará o que colher.

Bem-te-vi

Hoje rasguei papéis. Amassei as coisas que escrevi.
Coisas que não me lembro mais.
Eram só aquelas.
Sem cópías... perderam-se.
Joguei fora minutos, talvez horas,
quem sabe dias...
Não sei ao certo do que me despi.
Apenas fiz.
Não me senti bem, tampouco mal.
Acho que foi um modo de me agredir
pela responsabilidade que me imputo
por não entender o canto dos pássaros.

E os pássaros?
Talvez não tenham entendido meu canto também.

Um lindo dia!

 Os dias parecem mapas que contém estradas.Um dia acordamos,
escolhemos um caminho
e nos entregamos à ele...
e o dia começa cheio de cor.

É dia de céu azul, e o vento refresca a alma.

É dia de sol,
e nos escondemos sob a sombra
das nuvens dos nossos desejos,
que de cima acompanham tudo.

E a velocidade aumenta... é a subida... é a descida...
são as curvas... e as derrapagens...

Repentinamente o freio trava as rodas.

As decisões não são tão mutuas assim.

Foi uma voz lá dentro que pensou ter visto algo atravessando o caminho.
E o passeio muda de roteiro.

Parece um império, onde só uma vontade determina
o rumo de tudo.
Sem perguntas, apenas uma posição.

Não é vontade, é opinião.
A vontade era outra.
Mesmo assim, algo como um giro no próprio umbigo.

Quando quer, tens. E se define é não.

Cabe ao outro adaptação.
Saímos da estrada numa curva mal feita...
Deixamos o asfalto.

Poeira, buracos, pedras...

Mas quem diz que caminhos de terra não levam a belos cenários?

Logo à frente haverá um um belo campo florido,
lindas pedras,
e uma doce cachoeira para nos refrescar.
Uma boa forma... ser feliz!

Trocar sentimento de objeto por esperança.

Pedras
















Sob as águas do rio repousam pedras.

Os anos passam, as águas também.
As pedras ficam... Ficam redondinhas, por vezes ovaladas.

E assim o leito do rio coberto de pedras
revela silenciosamente o trabalho
que a natureza executou.

Não somos pedras.
As vezes as expelimos, noutras as arremessamos,
mas não somos pedras.

Não demoramos tanto tempo para nos lapidar
até o perfeito, ou quase, encaixe.

Porque tudo é encaixe.
E num eterno lapidar vamos nos moldando
uns aos outros, e às situações.

Simples assim!
Pedras. Quem disse que não falam?